Literatura Fantástica

Capítulos Anteriores

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Prólogo

Prólogo

Sae era a mulher mais bela do conselho, de qualquer Universidade. Embora todos os membros do conselho fossem responsáveis por cada decisão, não havia quem pudesse discordar em relação à sua opinião. Sempre que a sua voz invadia a assembleia e o conclave destituiu-se de qualquer função contestatária. A sua influência era um perigo para todos os governadores. Poucos eram aqueles que conseguiam, na verdade, resistir ao seu encanto embriagador.
Naquele início de Inverno, aquela assembleia extra contava apenas com o secretismo de uma parte do quórum. Nem as tochas haviam sido incendiadas para não denunciar os poucos membros na arena que discutiam o que sempre os manteve à parte do resto do conselho, universidade, reis e cidadãos. A sua espécie.
Sae caminhou até ao centro da arena de mármore, na clareira. O seu manto de penas negras espalhava-se pela pedra branca que a Lua banhava no centro daquela floresta. O vento soprava por entre as colunas e árvores, como única testemunha da sua confissão. Em tempos aqueles que a escutavam superavam em número qualquer fracção da plateia. Naquela noite contava apenas com cinco.
Esperaram por ouvir a sua voz de novo.
– Aguardar? Não esperávamos ouvir isso de si, divina.
– Por quanto tempo?
– Pelo tempo que for necessário.
– Não se parece com algo que diria em nada – estavam silenciosos com a surpresa.
Sae cruzou as mãos diante do seu peito.
– Estamos a desaparecer, o tempo vai eliminar-nos deste mundo e das suas memórias. Não é tempo para aguardar. A nossa espécie
Sae abriu os olhos para fixar o homem que elevara a sua voz com alguma irritação pela decisão. – Que visão do futuro é que teve? Confesse-nos! As guerras entre os dois povos têm sido uma constante desde o início dos tempos. Renegam-nos, nunca deixaram espaço para a nossa existência, nem nos assumem como parte da família. Deveríamos usar o nosso poder e força para nos distinguirmos, já que não nos consideram humanos sequer.
Sae silenciou-os com um gesto súbito mas efémero. Abriu os braços de repente como se fossem asas. O vento espalhou as penas pelo ar e o homem de cabelos ruivos sentou-se de novo assim que uma das penas lhe cortou a face.
– O que nos propõe? – ela estava enraivecida.
– Algo. Qualquer coisa. Quando nos convocou para esta reunião secreta nenhum de nós esperava ouvi-la pedir, exigir, para esperarmos. Tenho a certeza que falo por cada cobarde silencioso presente.
Sae enfrentou os homens diante de si. Conseguia ver o futuro de cada um. Não viveriam por muito tempo. A guerra que se aproximava exigiria muito de cada um como oráculo. Essa tinha sido a razão principal que a levou a adiar a decisão.
– Continuarei com o meu plano, mas não imediatamente. Esperarei pelo rei profético, o verdadeiro guerreiro dos céus.
– A sua eternidade permite-lhe falar dessa forma! – gritou o homem ruivo de novo. Sae elevou-se num salto e aterrou no parapeito diante do homem. Era a segunda vez que a desafiava. Não haveria uma terceira vez. O manto caiu-lhe dos ombros, não havia roupa por baixo, apenas a pele mais suave sobre uma lua cheia pálida.
Os instintos fizeram-no estender a mão para o seu corpo. Os restantes aproximaram-se extasiados com a sua aparência. Cada vez mais jovial, cada vez mais bela. Sae apanhou-lhe a face, enterrou os dedos nas chamas dos seus cabelos ruivos para o puxar. Lambeu-lhe os lábios deixou-o saborear-lhe a saliva, doce como o mel. Dos cinco oráculos, o ruivo era o único guerreiro, o mais perigoso de todos.
Sugou-lhe através do beijo, todos os pensamentos, memórias e segredos sem que ele se apercebesse.
Tinham um plano muito diferente do dela.
Os seus olhos tornaram-se dois orbes negros. O homem sucumbindo ao seu desejo, esmagou a sua boca pela sua pele como uma cria à procura de peito. Era felizardo em ter sido escolhido pela divina. Sae arqueou as costas para trás, quando as mãos e a boca do homem percorreram o seu corpo para lhe saborear todo vigor. Sorriu na direcção daqueles que a olhavam torturados. Atraiu-os com um gesto encantador. Os homens cederam de imediato. Tomaram-lhe a boca e um a um, leu nos seus pensamentos.
Não havia erro. O plano era matá-la. A intenção em traí-la era verdadeira e partilhada por todos, pelos menos todos os homens que havia beijado. Havia um que não parecia em nada interessado no seu corpo como os restantes, era mais novo, tímido e belo. Permaneceu imóvel, incapaz de sucumbir à orgia.
Nem a forma como movia o seu corpo, envolvida pelos quatro homens, nem a forma como gemia o demovia. Era o único que a olhava sem qualquer inquietação ou desejo fervente, era na verdade o mais forte entre todos os que criou.
Sae sorriu-lhe. Sugou toda a informação do plano de cada um dos seus amantes que a consideravam monstruosa, depois de tudo o que ela fez para torná-los mais do que simples humanos, filhos de uma nova Era de evolução, quase seres superiores. Mesmo assim pretendiam esquartejá-la cobardemente. Tanto poder. No entanto, no fim, continuavam a pensar como humanos.
Os gemidos de êxtase atraíram Estranhos alados para as copas das árvores. O ruivo foi o primeiro a atingir o auge, o seu grito de prazer foi proporcional ao da sua morte, de seguida um a um, Sae caçou-os sem piedade.
O silêncio regressou à arena na clareira. As penas moviam-se em remoinhos de lâminas que rodeavam o último homem vivo. Era apenas um rapaz. Sae caminhou lentamente para si, o seu corpo divino manchado de sangue. Velar já tinha ouvido tantas lendas sobre aquela mulher, sobre o que ele se tornara. Sabia que aquele que não resistisse ao seu toque morreria por prazer. Não tremeu, nem demonstrou qualquer sentimento quando Sae o abraçou para o beijar. Sentiu o sangue quente dos seus companheiros na pele, o cheio nauseabundo que o deixava atormentado.
– Poupar-me-á a vida por não ter concordado com o plano em matá-la?
– És o mais novo de todos – sorriu para os seus dezassete anos de idade. Mesmo assim era tão másculo quanto os homens que a tomaram. Roçou o seu corpo no seu, a túnica pouco impedia de senti-lo reagir. – O mais novo, mas o mais forte. Pouparei a tua vida por ter visto que será do teu sangue que nascerá o rei que trará a mudança, mas não me tentes. Não me atraiçoes como fizeram aqueles tolos.
Beijou-o. O limite de resistência de Velar estava no fim, a princípio Velar não cedeu, mas a pouco e pouco o corpo ganhou à razão. O seu desejo em esmagá-la perturbava-o. O seu corpo de contra o seu torturava-o. Desejava enterrar-se em si para esquecer tudo. Devorá-la como um Estranho diante da sua presa. Os gemidos no seu ouvido enlouqueceram-no, colocavam em perigo não só a sua sanidade como a sua vida. Sae envolveu-o com cuidado, como se fosse frágil entre as suas mãos, puxou-o para o topo do seu corpo depois de o torturar com vários com toda a sua sensualidade, fragrância e paladar.
Velar tornou-se escravo dos seus sentidos, senhor dos seus instintos. As veias pulsaram no seu corpo prestes a rebentar, mesmo quando atingiu o clímax, mesmo quando as garras da mulher enterraram-se no seu corpo. O movimento de posse sobre si não se quedou, mesmo quando os olhos de Sae se tornaram esbranquiçados e a sua voz invadiu a sua mente, mesmo quando o seu grito ecoou pela floresta...

Seguidores